Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, mesmo sem conhecer o método GTD ['getting things done' ou 'fazendo as coisas acontecerem' em tradução livre minha], mesmo sem jamais ter ouvido falar em David Allen, seu livro ou em seu famoso método que possui seguidores fanáticos pelo mundo. Afinal, quem nunca tentou organizar e agendar seu dia-a-dia? Descobri que meu problema maior com o GTD é que eu acreditava que bastaria um único método de agendamento para me organizar. Semanas atrás comecei a tentar métodos múltiplos e embora pareça confuso, eu consigo me organizar entre eles, simplesmente porque ao invés de explorar todas as possibilidades do software, eu uso aquilo que apenas me interessa nele: assim, além dos velhos companheiros de guerra, o outlook e o freemind, eu incorporei de vez à turma: onenote, planbook, chandler e fusiondesk. E claro, não poderia deixar de citar, meu hipsterPDA, nada melhor do que riscar uma tarefa feita para a gente se sentir bem, clicar 'done' não tem metade do efeito.
Quinta-feira à noite eu assisti parte do discurso que Barack Obama fez em Denver, o primeiro depois de oficializado como candidato democrata à presidência dos EUA. E devo dizer que ele realmente é carismático, depois de 45 anos, aparece um novo JFK.
Eu sinto saudades, eu sinto raiva, eu sinto dor. Sinto carinho e tristeza, sinto o abandono e a vontade de ver. Sinto ódio e sinto falta. Sinto vontade de matar e de abraçar e não soltar mais.
O STF está votando a autorização da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos, discussão que perpassa crenças e convicções pessoais de cada indivíduo. O que mais me aflige cada vez que vejo um julgamento permeado de teor religioso é que rasgam a carta constitucional e se esquecem que a liberdade de credo e pensamento é uma das bases da democracia. Grupos religiosos tentam impor seu modo de pensar, como se esta interrupção da gravidez, o aborto ou a união civil de homossexuais fossem se tornar compulsórias se aprovadas, e não meras escolhas.
Mas ainda sobre as pessoas que são contra que se interrompam a gravidez de fetos sem qualquer perspectiva só consigo pensar em uma coisa: no dos outros é sempre refresco.
Crypto message number 22:
É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
(...)
[boa sorte good luck, Vanessa da mata]
A viúva de Dorival Caymmi faleceu ontem à noite, 11 dias após a morte do marido. Aí diante de uma história assim, que desperta o lado romântico que existe em todos nós, eu só consigo pensar neste soneto:
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul, sem ondas nem espumas.
Bem cedo quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vogamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo...
Quando chegar esse momento incerto,
No lago onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo cheio de saudade
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado d'outro cisne.
[os cisnes, Julio Salusse]
4.48 psicose foi a última e talvez seja a mais famosa peça da dramaturga inglesa Sarah Kane que cometeu suicídio antes que esta obra chegasse aos palcos. Kane diz que a escolha do nome se deve à pior hora da noite, aquela em que mais acontecem os suicídios, pois a noite já foi longa e o sol ainda não apareceu. Se eu fosse escrever algo na linha desta obra escolheria o título de "3:30 solidão". É por volta das 3 horas que a gente acorda, ainda com sono, mas com os pensamentos a mil, sem consguir voltar a dormir, pensando naquela pessoa que não mais faz parte de nossa vida amorosa. É o luto. E ele faz parte do amor ou do fim do amor.
Dizem que as pessoas muito doentes pioram à noite para melhorar durante o dia, o mesmo acontece com o medo, ele sempre é mais intenso à noite. E com os sentimentos de perda: à noite eles doem mais.
Minha ópera favorita é la bohème, de Puccini, choro do começo ao fim quando assisto, mas está é a favorita musicalmente falando. Pois a história que mais gosto das óperas que conheço é o holandês voador [ou o navio fantasma] de Wagner. Conta a história, inspirada na mitologia como tantas outras obras wagnerianas, de um capitão de navio, punido por Deus, cuja sina é navegar pelos mares e uma vez por século descer à terra para procurar uma mulher que se apaixone por ele e a quem ele ame em troca e só assim se livrar de sua maldição.
O amor acaba.
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
Paulo Mendes Campos [o amor acaba]
Ontem eu escrevi aqui que acidentes com grandes aviões sempre acontecem em número de 3. O terceiro já aconteceu hoje: avião da ryanair com 168 passageiros sofreu despressurização e deixou 16 feridos. Quem estava pensando em adiar viagens por conta de acidentes de avião pode viajar tranquilo que só daqui um tempo acontecem mais 3.
Em geral eu sou bem cética, mas esta é uma das superstições que eu levo a sério.
Quando o imperador Julio Cesar promoveu uma reforma no calendário, alguns meses foram renomeados para homenagear imperadores [Julio, Agosto] e então passaram a contar 31 dias. Para a conta fechar, tiveram que tirar dias de outro mês e o escolhido foi fevereiro, que não era considerado um mês de bom agouro. Para mim o mês de mau agouro é agosto, já que Augustus se foi faz tempo, que o Império Romano caiu tanto no ocidente como no oriente, não dá para devolver 3 dias para fevereiro e deixar agosto com 28, não?!?!
Tenho para mim que quando um avião cai, logo caem outros dois. Semana passada houve aquele acidente na Espanha, hoje um boing caiu no Quirquistão.
Segundo minha teoria falta um terceiro acidente para fechar o número cabalístico.
Este sábado tive um daqueles dias que só dá para viver em São Paulo - e não, não falo de trânsito - mas de comida, diversão e arte. Almocei no espaço gattoria no cardápio desenvolvido para o restaurante week , depois fui para o luluzinha camp, super encontro de blogueiras, que foi uma festa e no final da tarde me mandei para a bienal do livro e saí de lá carregando toneladas de livros, aproveitando as promoções.
E ou não é um daqueles sábados que só a paulicéia desvairada nos proporciona?