No dia 22 de outubro a estudante do primeiro ano do curso de Turismo foi à faculdade, a uniban, com um vestido curto e viu-se no meio de uma turba sem controle que, aos gritos de "puta! puta!" a seguiam pelos corredores e até dentro de sua sala de aula. Diga que pelas fotos - inclusive tiradas dentro de sua sala de aula - o vestido era curto, mas não mais curto do que se vê meninas usando pelas ruas, em shoppings e até dentro de outras instituições de ensino; poderia ser curto o suficiente para causar a ira em senhoras da ligas católicas, da TPF, mas não de estudantes universitários, teoricamente, mais liberais que o restante da sociedade justamente por estarem em contato com ideiais "novas" em centros de produção do saber e conhecimento científico. Chocam as imagens, primeiro, pela turba insandecida que gritava, choca mais ainda que tudo aconteceu durante o horário de aulas [e não no horário do intervalo] e que nem professores ou inspetores tiveram autoridade suficiente para ordenar que os estudantes voltassem às aulas, pelas quais pagam [e caro, se se levar em conta o nível sócio-econômico deles]. Foi necessária a presença da polícia para retirar a moça com segurança de dentro do campus São Bernardo do Campo.
O episódio, óbvio, não parou por aí - ou este post sequer existiria - , ganhou as mídias sociais, primeiro com os vídeos que os próprios alunos produziram dentro do campus, achando que o linchamento moral que fizeram de Geisy era motivo de orgulho. Em pouco tempo, houve reações indignadas nestas mesmas mídias e o assunto caiu na grande imprensa. Geisy, até então considerada vilã na visão distorcida de seus colegas de uniban, foi corretamente nomeada vítima dos fatos. E que não fiquem dúvidas: a menina é vítima, vítima de 'bullying', do assédio moral do grupo que a discriminou por suas roupas, mas que poderia ter escolhido ali um rapaz com gestos efeminados, um deficiente, um negro. Os 'bullyingers' atacam a diferença sempre.
A uniban reagiu aos fatos, publicada em nota na grande imprensa, com a expulsão da Geisy após sindicância. Que sindicância foi está que aconteceu em tempo recorde e ainda no calor dos fatos? Onde ficam o direito ao contraditório e a ampla defesa, consagrados como cláusulas pétreas em nossa Constituição?
A uniban poderia ter agido como uma verdadeira instituição de ensino, ter promovido palestras e debates sobre cidadania em seus campi, ter convocado os alunos a gestos de cidadania como doação de sangue com coleta em seu campus São Bernardo, deixado claro que o 'bullying' é uma atitude condenável e enfatizado que a vida universitária pressupõe o respeito às diferenças. Preferiu agir como seus alunos e engrossando o coro dos selvagens cirminalizou a vítima.