Conheço a escrita de Danuza Leão desde seu livro de etiqueta "na sala com Danuza", que era divertido e dava de lavada em outros similares no mercado editorial. Assim, quando foi anunciada como colunista na Folha (jornal que assino há décadas, gosto, mas também reconheço seus defeitos) fiquei feliz, para depois descobrir que suas colunas não continham metade do charme e desprendimento de seu livro. Hoje em sua coluna na Folha, reclamando da chamada 'PEC das empregadas', Danuza soou reacionária e retrógrada. Primeiro porque ela quis discutir legislação trabalhista, que é assunto técnico, não é para não iniciados, ainda mais a seara trabalhista, que é um mundo à parte no universo do direito. Depois pelo uso do argumento de autoridade (vou falar do que conheço, implicando que o leitor não conhece). Danuza descreve a diferença da natureza das habitações de empregados na França e no Brasil ignorando completamente que enquanto por lá esta diferença se origina na separação que havia entre nobres e a plebe que os serviam, aqui o 'quarto de empregada' (como a porta da cozinha) é resquício da casa grande e senzala. Por fim, ela escreve na tentativa de defender um privilégio, alega que empregadas ficarão desempregadas, ora, mas ocorre justamente o contrário atualmente: não há empregadas domésticas disponíveis no mercado (PNAD/IBGE mostra que há mais mulheres trabalhando no comércio do que em lares).
Danuza chama França e Estados Unidos de 'países mais civilizados', porém quando uma legislação surge para que nos tornemos tão civilizados quanto estes países ela usa sua coluna como palanque para dizer que a diferença é boa. A exclusão de um grupo de pessoas da proteção legal não é boa, nunca. Se queremos um país moderno, teremos que arcar com mudanças sociais. Porém quando estas mudanças rumo a civilidade e modernidade atacam o bolso parece que não são tão bem vindas assim.