De todas estas denúncias envolvendo corrupção e o PCC o que mais me surpreende - ainda que seja triste que a corrupção não mais surpreenda neste país, mas tenha se tornado um lugar comum - são os valores envolvidos. Um preso disse pelo telefone a uma emissora de TV que pagam entre 200 e 300 reais por um celular. Ora!, duzentos reais é o preço de um aparelho pré-pago 'entry level' em qualquer loja. Ou seja, os caras estão pagando preço de mercado por um celular! Aplicando a lei de oferta e procura, eu só posso concluir que a oferta deve atender muito bem a demanda para que os preços sejam tão baixos assim. E o ex-funcionário da câmara dos deputados Arthur Vinícius da Silva vendeu a gravação de uma sessão sigilosa da CPI por meros 200 reais. Que é isto?!! Ele disse que ganha pouco, mas ganha tão pouco a ponto de se sujar [e como se sujou] por uma merreca dessas?!?! A corrupção tornou-se tão corriqueira neste país que os valores da corrupção atingem valores risíveis. Risíveis se não fossem de provocar lágrimas de desgosto.
Esta semana deixei de ir à academia, que fica dentro de um shopping, por conta dos últimos acontecimentos. Não, eu não tenho medo que o PCC ataque os shopping, mas tenho medo das ondas de pânico que se seguem aos boatos que, desde segunda-feiras, têm causado alarde entre todos. E, na hora do pânico, o melhor é não estar no meio da turba amedrontada.
Ontem, na coluna social da Folha, Mônica Bergamo, narrou como foi a segunda-feira das pobres pessoas ricas que tiveram de cancelar suas festas por conta do pânico instalado quando o PCC mudou dos alvos policiais para alvos civis. Sempre digo que o mundo é composto por ilhas de tranquilidade, segurança e fartura cercadas por um mar de miséria, ignorância e fome. Só que agora, ainda que por diferentes motivos, as ilhas de tranquilidade estão perdendo seu sossego ao serem atacadas pelos ocupantes do lado de lá dos trilhos: foi assim nos ataques de 11 de setembro, foi assim nos ataques aos trens na Espanha, foi assim nestes ataques do PCC aqui em São Paulo. A ignorância e a miséria vêm se insurgindo contra aqueles que lucram ao mantê-los nestas condições. Ou a coisa muda e se passa a repensar um mundo em que alguns poucos deixem de ter tanto para que muitos possam ter o mínimo necessário para viver dignamente ou o mundo que conhecemos pode estar com seus dias contados. Soa apocalíptico? Talvez, mas para os que viveram as datas que citei parecia e muito que o armagedon tinha chegado.
Aviso aos navegantes: devido aos inúmeros ataques de spammers ao nosso sistema de comentários, desde ontem é preciso digitar uma seqüência numérica para comentar aqui, ok? Pois é, o PCC não perdoou nem o mundissa.
Sabe quem os paulistanos elegeram como principal culpado dos ataques do PCC? A justiça. Isto mesmo: o poder judiciário. Os ataques do PCC no Estado de São Paulo demonstraram que há uma crise na segurança pública, uma grave crise, mas o descrédito que o povo começa a ter das instituições é uma crise muito mais aguda. Já não basta o poder legislativo desacreditado por conta das várias denúncias de corrupção e do corporativismo nauseante, agora o poder judiciário começa a seguir o mesmo caminho ao ser apontado pela população como o principal culpado. Posso aqui elencar uma grande lista de problemas que atingem a nossa justiça - abundância de recursos que retardam cumprimento de sentenças, excesso de cursos jurídicos sem que haja professores competentes para tantos alunos e que termina por formar, para os poucos que logram passar no exame de ordem, advogados não plenamente cônscios de seu papel na consecução da Justiça [sim, Justiça com J maiúsculo aqui], leis brandas forjadas com base na década de 30, que servem à única finalidade de demonstrar à comunidade internacional como o país tem leis de caráter educativo - , mas o defeito mais premente é a falta de celeridade do poder judiciário, pois se sua principal função é pacificar as relações sociais, enquanto não há uma decisão judicial [o trânsito em julgado, em bom jurisdiquês] há uma celeuma presente do corpo social.
Alguém ainda é inocente para acreditar que não houve concessões das ao PCC para que os ataques parassem? Ou ainda existem velhinhas de Taubaté neste mundo?
Apesar dos boatos que correram ontem à tarde, até uma rádio noticiou, não houve toque de recolher imposto pelo governo do Estado. Mas a população se impos toque de recolher e ontem à noite a cidade ficou deserta.
Estávamos fora do ar porque fomos vítima - o Norbies e eu - de um feroz ataque de spammers de comments.
A palavra exata para definir como a cidade de São Paulo está após o assassinato de mais de 50 policiais [civis, militares, bombeiros e até um guarda florestal], ataque a mais de 10 agências bancárias, incêndio criminosos em mais de 60 ônibus, ataques a fóruns e 3 estações de metrô é sitiada. São Paulo está sitiada, sua população está com medo. Mas não devemos nos render: devemos seguir o exemplo dos londrinos que levavam a vida como se nada estivesse acontecendo após os bombardeios dos alemães. Somos melhor que a bandidagem e devemos demonstrar isto.