Este fim de semana o salão onde eu habitualmente fazia minhas unhas - acho que minha maior mulherzice é fazer unhas toda semana e ser incapaz de reconhecer minhas mãos com as unhas sem esmalte - fechará. Depois de 8 anos elas, uma cabeleira e duas manicures, não aguentaram os custos que estavam muito altos e resolveram baixar as portas pela última vez. Pode-se dizer que foi má gestão, incapacidade de atrair novos clientes e vender outros produtos e/ou serviços para os antigos, culpar o governo federal por nosso crescimento econômico inferior ao de todos os outros países emergentes; enfim, economistas, administradores e consultores saberão tecer teorias melhor do que eu. Porém fui eu ontem que senti aquela dorzinha do coração de viver algo pela última vez - sabe quando você sai de um emprego e volta lá assinar a papelada e sabe que está fazendo aquele caminho pela útima vez? Quando um namoro termina e você vai buscar suas coisas e olha para aquelas paredes sabendo que jamais as verá novamente? - foi isto que vivi ontem e também fiquei com pena delas. Oito anos é uma vida, toda vida do negócio delas. Elas, com seu pouco estudo e menos capital ainda, abraçaram o sonho do mundo capitalista do empregado se tornar patrão e este sonho terminou ontem. Duas delas vão trabalhar em um salão maior, uma continuará sua própria patroa e fará unhas como autônoma na casa das clientes. Esta fará minhas unhas semana que vem aqui em casa.
Num dos mais longos papados da história, o papa pop João Paulo II esforçou-se para que a igreja católica se aproximasse do mundo muçulmano. E esta semana Chico Bento XVI jogou todo o esforço de seu antecessor no lixo. Já não bastasse toda a tensão que há entre o mundo ocidental e os extremistas muçulmanos desde os ataques em 11 de setembro - que concidentemente aniversariaram esta semana que passou - o papa resolveu colocar gasolina em coquetéis molotov.
Deu na Folha que o Lula é mais votado por homens do que por mulheres. Segundo a pesquisa mulheres votariam menos no atual presidente porque ele não tem cara de galã. A prova cabal e científica que mulheres gostam mesmo de cafajestes, inclusive em cargos públicos.
Semana passada aqui em São Paulo tivemos dias muitos gelados, inclusive a noite mais fria dos últimos 3 anos. Esta semana está um calor senegalês. Então a vantagem de morar em São Paulo é jamais sentir saudades de alguma estação de ano. Estamos acontecem todas no período de uma semana.
Na pesca de peixes maiores - devo confessar que adoro pescar, abdiquei do gosto por respeito aos animais, por achar o 'esporte' extremamente injusto e sacana - você precisa deixar o peixe se cansar para tirá-lo d'água, peixes de poucos quilos são fortes e extremamente brigadores, afinal é sua vida que está em jogo. Então depois de fisgado o peixe, você solta a linha e deixa-o nadar solto, crendo-se livre, o peixe se afasta. O mesmo acontece com relacionamentos: a pessoa se crê livre, mas por pouco [ou em casos especiais, muito] tempo consegue-se ter um controle da vida da pessoa. Como o peixe, ela crê nadar livre nas águas, porém sem perceber, ainda carrega a linha que a mantém presa às mãos do pescador.
Acabo de ver a foto do corpo do Coronel Ubiratan na TV, no local de crime. As pessoas merecem tratamento condigno mesmo depois de mortas. E mesmo que estas mortes sejam de interesse da imprensa.
Com a velocidade em reportar notícias imposta pelo jornalismo online - que já era uma característica do rádio - ao jornalismo escrito resta o papel de uma leitura reflexiva, que faça o leitor ser capaz não apenas de se informar, mas de criar sua própria opinião a respeito do assunto, pois quando o jornalismo escrito tenta informar uma novidade o bonde da história já o atropelou, ainda mais quando o veículo em questão é uma revista semanal. Foi o que aconteceu com a Veja este fim de semana: a matéria de capa é sobre o YouTube, site para se postar vídeos que virou mania na internet, onde se encontra de tudo, desde vídeos caseiros até trechos de programas de TV onde o apresentador pagou um mico homérico [então nada mais de ouvir contar, você vai lá e vê o fora, como no caso do Fernando Vanucci que apresentou um programa falando mole depois da final da Copa da Alemanha]. Onde está o fora então? Acontece que o YouTube, líder absoluto até então, foi ultrapassado no último mês pelo Yahoo! Video e pelo Google Video, ou seja, quando a matéria da revista saiu, ele já era apenas o terceiro em popularidade, mais acertada seria uma cobertura sobre a crescente popularidade de sites de vídeo na internet.
Amor para mim é, essencialmente, compartilhar. Compartilhar fatos do dia, compartilhar uma música, um poema, um filme, uma idéia, um sonho, um plano para o futuro. Sei que estou gostando de alguém quando tenho necessidade de compartilhar o que acontece comigo, as coisas que me emocionam, que me comovem, que me incomodam. O contrário também é verdadeiro: sei que já não me interesso por alguém quando não me importo mais de compartilhar as coisas da minha vida, muito antes que morra o desejo ou a vontade de estar junto, morre a vontade de partilhar os detalhes que dão sentido ao relacionamento.
Eu fiz faculdade de direito e de história. Embora os cursos possam parecer sem nexo entre si, não são, tanto advogados como historiadores devem reconstruir uma história passada a partir de informações fragmentadas e subjetivas, quando não tendenciosas, que recebem de suas fontes. Por vezes creio que o ofício aprendido em ambas tomou conta de mim. Sempre que ouço uma história que me parece imprecisa, ela fica lá, no meu inconsciente, como um quebra-cabeças que precisa ser completado. Não o completo com uma ficção criada por mim, seria brincar de romancista, o que não é meu ofício, eu fico buscando segundas e terceiras intenções por detrás do que me foi dito, relembro as expressões do rosto, as inflexões de voz de quem me narrou a história de seu ponto de vista para tentar advinhar ali o que não foi dito e, então, de repente, as peças se encaixam e a história ganha nexo. Tento olhar por outros ângulos, julgar minha conclusão errada, mas aquela é a única forma como as peças se encaixam e, portanto, vos digo: as pessoas dizem muito, muito mesmo quando acham que estão dizendo pouco. Basta saber ouvir um pouco além das palavras ditas para ouvir também o que não foi dito claramente.