Sempre considerei papo de salão de beleza um porre, porém frequento um semanalmente para fazer as unhas - minha maior mulherzice - só nunca fui de dar trela para conversa nem com outras clientes nem com a manicure, que, tenho certeza, fica muito mais feliz com a gorjeta no final do serviço e minhas poucas palavras do que se eu enchesse seus pacovás com conversa fiada. Só que embora vá a salões semanalmente há anos, jamais tinha me dado conta de como estes profissionais tem de ouvir besteira e ficar calados, só que hoje eu ouvi a maior de todas as besteiras e vou narrar aqui:
Preâmbulo: encontram um filhote de pardal grudado nestas malditas colas que vendem para "espantar" pombas (nem vou tecer comentários extras sobre o quão desumano é isto, fora a certeza que a prática é ilegal, por configurar maus tratos a animais, nem dizer onde eu acho que um infeliz destes deveria enfiar a cola), enfim, encontram o filhote e levaram para um cabelereiro que gosta de animais.
Aí, óbvio, o caso do passarinho motivou conversas várias sobre animais - e, pasmem: embora eu faça todo mundo aqui, no twitter, no facebook, no flickr e no tumblr aguentar as fotos dos meus gatos, jamais comentei no salão que tenho meus peludos - então continuei quieta, aí uma energúmena conta que viu um cachorro atropelado perto do trabalho e que não havia ninguém para socorrê-lo e que ela também não o faria e que "a melhor coisa que ela deveria ter feito era passar com o carro sobre o cão já atropelado para matá-lo e terminar com seu sofrimento". Sim, ela disse isto e duas vezes. E, nestas horas, você se pergunta como um ser humano pode ter esta ideia de jerico, o que ela não deve pensar sobre mendigos e outros menos afortunados. Eu fiquei calada, porque não acredito que uma mera repreensão pública faria alguém que pensa algo assim mudar sua visão de mundo. Mas nem tudo é uma história sobre alguém sem moral ou amor às outras formas de vida, o cabelereiro que a atendia (o tal que gosta de animais) virou e disse: "se você não pode fazer nada nestas horas, o melhor é virar o rosto e passar reto; alguém mais preparado que você passará lá e saberá o que fazer". E assim fica demonstrado que existe muito mais gente de bem no mundo do que idiotas que acham que a solução é passar com o carro sobre um cão já atropelado. a exceção só confirma a regra.
Sempre imaginei que quando tomasse conhecimento da morte de Steve Jobs, seria algo na linha do "ah que pena, pôxa", mas não foi só assim, eu realmente fiquei bem chateada, triste até. Steve Jobs foi um visionário que transformou produtos de uso comum: tornou-os objetos do desejo. As pessoas exibem iPods, iPads, iPhones, macbooks com o mesmo orgulho de quem tem um rolex no braço, ou talvez até um orgulho maior, o orgulho de ser alguém inteligente suficiente para ter escolhido a simplicidade da apple, pois ele
- o mais importante de seus feitos - os tornou fáceis de usar. E nesta simplicidade de usar vem o maior invento de Jobs, sua grande genialidade, ao dar nova roupagem a objetos que já existiam, eles lhes deu um caráter intuito, até crianças iletradas usam iPads e iPhones, porque é fácil e simples usar. Mas atentem: não lhes deu um caráter simplório, de coisa para gente burra, pelo contrário, mostrou que estes aparelhos são meios para um fim e que não devem ser fins em si mesmos, onde as pessoas leriam manuais longos e chatos para aprender todas as suas funções. Além disto, Jobs elevou o marketing a um novo patamar, ele fez da apple uma religião, há pessoas (os chamados 'macfags') que cultuam a apple como outros cultuam sua igreja, a defendem, não aceitam críticas, mesmo que as mais óbvias e justas.
Fiquei triste ontem porque vi a morte de um gênio dos primórdios da internet. A história fará jus a Steve Jobs e pelos próximos anos sempre nos perguntaremos: o que ele estaria inventando, qual seria sua grande sacada para este momento?
Este vídeo é de um discurso de formatura que Jobs fez em Stanford em 2005, para mim é o testamento que deixa para a humanidade sobre como ir atrás de seus sonhos: